sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Os Princípios e a realidade

Na primeira página de um grande site brasileiro está a seguinte manchete: “Ferrari de 1963 vendida por R$4.6 mi”, ou na verdade, mais que 2 milhões de dólares, porque foi comprado fora do Brasil.
Então tive o seguinte diálogo em casa:
- Por que alguém paga 2 milhões de dólares num carro?
- Porque ele tem!
- E por que ele tem tudo isso para pagar num carro?

Eu duvido que qualquer pessoa aqui saiba me dar uma resposta fundamentada para isso. Eu também não consigo. E minha resposta é:
Porque vivemos num mundo patético!

Me deparo quase diariamente com muitos dos meus professores utilizando o termo “Igualdade”, “Princípio da Igualdade”. Desculpa, mas igualdade do que mesmo?

Me recuso a acreditar que Igualdade existe quando é possível achar na capa de um mesmo jornal, notícias como: “Anônimo paga U$ 2 mi por Ferrari de 63”, “Número de desempregados sobre em São Paulo”, “Loteria acumula R$23 mi” (e não são 23 mil, são 23 milhões... O que alguém faz com tanto dinheiro? Compra Ferrari antiga para guardar de recordação.), “Mendigo morre na noite mais fria de São Paulo”. Fora o fato de que não está frio em São Paulo, alguém duvida, por um instante, que essas manchetes são difíceis de estarem na capa do mesmo jornal, no mesmo dia, em seqüência?

Também quase diário é o meu encontro com “Dignidade do ser humano”... Fácil, não precisa ser estudante de direito, por favor, abra a Constituição. Não precisa tê-la em livro, procure na Internet. Art. 1, III, C.F./88.

Sou só eu, ou a Dignidade do ser humano ficou um pouco esquecida quando o mendigo morreu de frio?

Uma olhadinha para baixo, art. 3... Objetivos fundamentais. Fundamentais, não são meros objetivos.
Inc. I- Apesar do milionário anônimo não ser brasileiro, eu posso simplesmente, estender esse objetivo para todo o território mundial – porque assim seria verdadeiro, para todos os que pregam a democracia, ou até aos que não; ou poderia modificar o exemplo da Ferrari por qualquer outra extravagância de algum milionário brasileiro.
Inc. III- O desempregado e o mendigo novamente ficam “a ver navios”.

Longe de mim criticar ao milionário que compra carro, roupa de celebridade, mansões em diversos países. Eles têm dinheiro, não espero que coloquem de baixo do colchão e fiquem olhando. O problema, inicialmente, não é com eles. Mas o problema é o por quê da situação.

Por que alguns podem gastar 2 milhões (independente da moeda) com algo superficial enquanto outros, literalmente, morrem de fome?

O pior de tudo isso é saber que muitos já escreveram ou falaram exatamente o que está escrito aqui, muitos ouviram, muitos pensaram e ninguém, até agora, mudou o fato.

Enquanto isso... Alguém ganhou R$ 700 mil para aparecer na Playboy, o Milan pagou R$ 56,5 milhões um jogador de apenas 17 anos e uma super top model brasileira ganhou no ano passado algo em torno de U$ 20 milhões.

2 comentários:

Cynthia Silva disse...

Aquele velho problema da humanidade: transferência de responsabilidade.
Se eu tenho não vou abdicar em prol daqueles que não tem: a culpa é do governo! Afinal, eu pago imposto!
Se eu não tenho vou mendigar para aqueles que têm e me virar para sobreviver: Afinal, não tenho condições culturais de responsabilizar o governo.
Entendo a posição dos professores.
A Constituição é linda! Quem dera que seus princípios fossem postos em prática de forma mais eficaz.
Procuro não transferir minha responsabilidade, faço o que posso para sobreviver e, conforme minhas possibilidades, ajudar aqueles que estão lutando para sobreviver.

Soraia França disse...

A igualdade é um princípio lindo, eu gosto do art., assim como eu gosto do art. da dignidade, do bem coletivo, das funções do estado, enfim, eu acredito que a C.F. é um bom livro, mas ultimamente eu acho que é só isso, um LIVRO.

Mas a culpa da desigualdade é nossa, ou do governo, discussão citada pela Cynthia acima.

O que realmente me intriga é o pq não posso ter a mesma furtuna da "Paris Hilton", hahaha, fora isso, eu acredito na mundança a longo prazo, a muito longo prazo, no prazo em que muitos de nós já vão ter perecido e não vão ver a real mudança.